Em 2017, após uma consulta espiritual, fiz meu primeiro jogo de búzios. Além das inúmeras orientações sobre minha vida espiritual, familiar e profissional, saí da consulta com uma lista extensa de folhas para tomar banhos durante sete dias. Anotei todas no meu caderno, algumas, até então, desconhecidas para mim. Sem demora, segui para a Feira de São Joaquim, caderno em mãos, em busca de Macaça, Beti cheiroso, flor de laranjeira, folha da Costa, Folha do velho, Orirí e outras ervas recomendadas. Ao chegar em casa, espalhei as folhas pelo chão da sala, e o ambiente se preencheu com um cheiro verde, um cheiro de vida e prosperidade. Cuidadosamente, organizei cada uma em saquinhos plásticos – no total, sete saquinhos contendo um punhado de cada folha indicada pelo bàbá.
Durante sete noites, me banhei com aquelas ervas tão cheirosas. A cada banho, sentia meu orí se fortalecer. A casa cheirava a folha fresca, meus cabelos exalavam flor de laranjeira e manjericão. Foi uma experiência transcendental, bonita e ancestral. Mas, logo após esses banhos, percebi que ainda faltava algo. Sentia que precisava contribuir com minha comunidade negra de alguma forma, afinal, sou uma educadora preta.
Deitada no meu sofá, na casa própria para onde havia acabado de me mudar após uma reforma, comecei a maturar uma ideia antiga: por que não usar as redes sociais para falar sobre a Lei 10.639/03?
Naquela época, o Instagram estava repleto de conteúdos sobre moda, música, viagens, fotografias bonitas e felizes. Mas eu sentia falta de algo: conteúdos sobre educação, especialmente sobre a educação de crianças negras. Considerando que, em contextos favoráveis, um celular smartphone pode ser acessível para educadores/as, percebi que essa ausência era também uma oportunidade. Concordo com Nina da Hora (2022) quando ela afirma que a divulgação científica na internet está conectada com a ideia de acessibilidade, sobre ter a possibilidade de compartilhar ciência fora da “bolha da academia”.
No entanto, eu não queria apenas denunciar o racismo e suas problemáticas. O diagnóstico já conhecíamos: o racismo está na ordem do dia. Mas, e agora? Continuar expondo nossas feridas ou focar em possibilidades dentro da escola? A ideia já estava maturada: Vou criar um Instagram agora!
Mas qual nome daria? Pensei em "Fazer valer a 10", fazendo referência à Lei 10.639/03, mas achei muito grande. Segui tentando encontrar um nome que refletisse o objetivo de compartilhar outra narrativa sobre a nossa história. Até que... de repente... Afro... Afro... Afroinfância! Dei um pulo do sofá, como se um erê tivesse acabado de soprar no meu ouvido o nome desse projeto tão grandioso. Nossa! Afroinfância! Pesquisei na internet e não havia nenhuma outra menção a esse nome. Era para ser nosso! E foi assim que esse projeto me trouxe até aqui, não tenho dúvida alguma de que a espiritualidade abriu os meus caminhos.
