Hoje à noite, uma estudante do ensino médio de uma escola pública de Salvador me fez a seguinte pergunta: “Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou quando criança, especialmente sendo uma pessoa negra no Brasil?” Fiquei refletindo sobre essa pergunta e percebi que, embora hoje eu tenha uma resposta, quando criança eu não a teria.
É sobre isso que quero refletir: todas as experiências que as crianças negras vivem hoje no Brasil, sejam boas ou ruins, especialmente nos primeiros anos de vida, são experiências novas para elas. Quando uma criança vivencia pela primeira vez uma experiência traumática, por não ter referências para elaborar o que está sentindo, ela dificilmente consegue nomear ou entender aquele sentimento. Por exemplo, quando eu era criança, não gostava do meu cabelo; achava que ele era feio e “ruim” em comparação com outros cabelos, que eu via como mais bonitos e maleáveis. Mas eu não sabia explicar o porquê, nem entendia que esse sentimento gerava uma baixa autoestima que me acompanhou até a vida adulta, na corrida para mudar a estrutura dos meus fios.
A criança sente, e às vezes parece esquecer as experiências traumáticas provocadas pelo racismo. Mas esse esquecimento é apenas aparente, pois, na verdade, essas experiências se acumulam, gerando autonegação e rejeição dos seus assemelhados étnicos. Se, em uma tarde, alguém a faz acreditar que não é boa o suficiente por ser uma criança negra, é muito provável que, dependendo da idade, ela não questione essas afirmações. Contudo, em situações semelhantes, ela pode reviver essa crença e levar por toda uma vida.
O que você pensa sobre isso?
Muitas experiencias vividas por crianças negras, boas ou ruins, são novas para elas.
